Amor platônico

"Gratidão" é uma palavra muito usada atualmente. Geralmente utilizada por aqueles que querem pregar que gratidão é a chave para conquistar mais da vida, como uma espécie de imã que atrai realizações.

Hoje acordei cheia de gratidão, mas não essa.. Acordei com o coração realmente muito agradecido à Deus, às Deusas, aos meus guias, anjos, energias. Algo muito genuíno e nem um pouco parecido com aqueles mantras de gratidão forçados, que você entoa no intuito de alguma outra coisa. Não... eu simplesmente acordei muito agradecida mesmo.

Eu acordei e lembrei que era sábado, que eu ia finalmente fazer uma massagem, algo para mim, nesse meu corpo que tem estado tão dolorido da lombalgia que gritou, de maneira nem um pouco tímida, no fim do ano passado. Fiz a massagem e foi maravilhosa. Fazer algo por mim, estar com minha família, estar com saúde, estar lutando para recuperar todas as minhas capacidades físicas, emocionais e mentais é maravilhoso. Poder fazer isso é de um privilégio enorme e hoje eu estou muito, muito grata.

Agora há pouco coloquei um cd da Tony Braxton que eu escutava muito quando era mais nova, enquanto chorava pelos meus amores platônicos. Como eu já sofri ouvindo essas músicas, porque eu amava... amava muito. E, sejamos sinceros, eu fui assim até pouco tempo.

Hoje, não. Hoje eu canalizo todo esse amor, todo esse cuidado e carinho pra mim e pra minha família. Acho que eu finalmente aprendi algumas coisas na vida. Claro que qualquer relacionamento é um desafio e traz os testes e provas da vida, mas há muito tempo... quer dizer, acho que nunca me senti verdadeiramente bem "sozinha" como eu me sinto agora.

Quando eu era mais nova eu queria tanto um namoro. Como queria... fui ter essa experiência lá pelos dezenove anos e até aí eu dormia e acordava fantasiando como eu seria feliz com um namorado. Meus amores e relacionamentos platônicos duravam anos e anos. Eu cheguei a ter um namorico rápido lá pelos dezesseis anos (se não me engano a idade), mas foi só mesmo até que eu engatasse um namoro sério aos dezenove.

Ficamos dois anos juntos e terminei porque já não sentia aquela coisa de homem e mulher, mas mesmo assim passei dois meses na fossa, depois de uma viagem internacional, por ter perdido meu melhor amigo. Me recuperei e segui a vida, sofrendo pelo que hoje chamamos de "crushes" e naquela época chamávamos de "ficantes". Lá pelos vinte e dois eu comecei a namorar um garoto que eu nem gostava tanto, mas que estava apegada. Ficamos namorando dois anos e ele terminou comigo. Sofri horrores durante quatro meses. Ao voltar pra "arena do amor", logo conheci meu último namorado, com quem fiquei, ao total, três anos, e com quem terminei há cinco meses. 

Desde então decidi que iria aprender a me amar e acho que vem muito daí essa gratidão. Quando eu consigo fazer algo única e exclusivamente para mim, que me dá muito prazer, também me dá muita gratidão. Internamente eu olho pro céu e penso: "obrigada, Deus, estou me encontrando".

Lembro daquela menina sofredora, sonhadora, cheia de medos e anseios na bagagem. Vejo na frente dos meus olhos aquela menina que passou por tantos relacionamentos que não a fizeram jus, que a machucaram, que fizeram-na inúmeras cicatrizes, e consigo entender o por que desse caminho. Consigo entender que um dos paranauês que eu vim resolver aqui, nessa minha alma originalmente ingênua e que gratuitamente confiava nos outros, é que a confiança tem que ser em si em primeiro e último lugar. Há amor? Há, mas o próprio é pré-requisito de qualquer história que se possa viver, em qualquer seara da vida.

Eu ainda estou construindo minha história. Deus sabe o quanto eu pelejo diariamente com meus medos, minhas inseguranças, minha ânsia de descobrir no quê raios eu vou contribuir para este mundo, com minha paixão por fazer dessa terra um lugar melhor, mas estou entendendo, cada vez mais, que momento "a-há" é uma construção (ou desconstrução, em alguns casos). Você não simplesmente acorda um dia e descobre o que veio fazer aqui. Você percorre a vida, quebra a cabeça (muitas vezes quebra a cara) e vai tecendo esse caminho para dar a sua contribuição, com a esperança de que você já esteja contribuindo ao menos um pouco.

Sim, a pergunta do quê eu vim fazer aqui e quando vou ser independente ainda me atordoa, a pergunta de se vou casar, se vou ter filhos etc ainda me preocupa um pouco; mas a pergunta de "quem é Raquel?" hoje eu sei que estou desvendando, construindo, lapidando. Hoje, aos trinta anos, pela primeira vez eu não passo as noites idealizando os outros, mas tão somente a mim mesma. Quem eu sou e quem eu quero ser. 

Hoje começo a enxergar que, amando tanto, a tantos, na verdade talvez meu amor por mim tenha sido o mais platônico de todos... até hoje, quando realmente estou aprendendo a me amar.

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