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O denominador comum

Aquela carta que eu escrevi e que ele provavelmente nunca leu porque era covarde e sabia que ali tinha uma fração do que eu sabia, que era também uma fração do que realmente acontecia. Devolvi os presentes com a carta, sentimentos à descoberto.

Acabei voltando depois, por ainda estar funcionando no compasso da engrenagem que fez aquele relacionamento ser possível: a minha insegurança. Minha mãe sempre me disse: se você tivesse forte quando o conheceu, vocês nunca teriam namorado.

Hoje o texto não é sobre culpa, porém, é sobre responsabilidade. Não sobre o passado, mas sobre o presente.

Eu sustentei um relacionamento ruim, tóxico, devastador e adoecedor; um relacionamento que não apenas não me dava as mãos, como também apodrecia as minhas raízes. Sustentei até não conseguir mais - e que bom que uma hora eu não tive como continuar.

Após o término, veio o luto. Doía, dilacerava. Era uma mistura de certeza da minha decisão e um vazio profundo. Muito ressentimento e também muita tristeza. Hoje, um ano depois, não sinto falta de mais nada daquele relacionamento, mas ainda restam peças do quebra cabeça a serem encaixadas do por quê eu sustentei aquilo por tanto tempo e também do por quê estou reclusa na minha vida, agora, um ano depois.

Acredito que seja esse mesmo modus operandi. Um eu contra eu mesma. Naquela época eu me agarrei nele porque acreditava que era o que havia de melhor para mim. Hoje, me agarro em mim mesma com medo de que qualquer coisa fora da minha zona de temperatura e pressão vá me desarticular. No fundo, sou eu evitando a mim mesma; sou eu evitando viver a mim mesma em pleno potencial.

É medo? Sim, mas também parece ser mais do que isso. Parece ser um medo que virou uma maneira de pensar, de sentir e de estar no mundo. Parece um medo que se incrustou no meu comportamento de uma forma que, se não contestado, poderá ele ser meu próprio algoz. Aí não precisarei de um relacionamento ruim, tóxico, devastador e adoecedor, porque eu mesma estarei fazendo todo esse desserviço sozinha.

É hora de parar e analisar a mim. Já entendi quem são eles. O ex, a avó, a coach, eles todos são terrivelmente eles. Mas cadê a outra parte dessa equação? Está na hora de fazer a parte mais difícil dessa análise: encarar a mim mesma.

O outro pode ser extremamente perturbador e ameaçador, mas vejo que nada pode destruir tanto a mim mesma quanto eu e está na hora de enfrentar isso.

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