Quem tem certeza?

Acho que um dos grandes calafrios de estar solteira ficando com alguém é não ter certeza. Não ter certeza se vocês vão se ver; não ter certeza se você é a única; não ter certeza se você quer ele como único (mentira, em geral a gente tem alguma noção do que quer); não ter certeza se a relação vai virar relacionamento.

Sabe como é? Isso se chama, na verdade, paranóia em querer controlar tudo. Sim, porque, vejamos, é claro que estar em um "relacionamento sério" dá aquela segurança maior dos sentimentos da pessoa por você e dos seus por ela, da intenção de construir algo juntos etc. Essas seguranças aí ficam bem definidas se o relacionamento for bom, mas será que dá mesmo pra ter certeza 100% do sentimento do outro o tempo todo?

Não, não dá. E quem disser que dá é porque nunca viveu um término. Um término definitivo não acontece do dia pra noite. Ele surge como uma ideia, é trabalhado, arquitetado, até que, em algum momento, vira realidade. No ínterim entre o surgimento da ideia e o dia fatídico, o que acontece é que você estava com aquela pessoa, muitas vezes achando que estava tudo tranquilo e, na verdade, não estava.

Nas minhas imersões budistas eu aprendi muito sobre o desapego. Sobre a ideia de viver o hoje, além do fato de haver o amor amoroso e o amor genuíno. Eu tenho certeza que ainda não estou no nível de amor genuíno pelo meu escolhido da vez, mas também sei que já melhorei na possessividade do amor amoroso.

Evoluir é uma construção diária. Você acha que está com tudo, doutrinando que nem Buda, daí vem a vida e te coloca uma pedrinha no sapato que faz você perceber o quão engenhoso é esse negócio de viver de forma desapegada.

E ter certeza é justamente fantasiar o controle na esfera da realidade. Fantasiar sim, afinal nem nós sabemos o tempo todo o que nós sentimentos sobre tudo, imagine tentar imaginar e controlar o que o outro pensa. Sim, é impossível.

Eu não tenho a fórmula mágica ainda (tenho esperança de atingir esse lugar ideal), aquela que vai me trazer paz absoluta independentemente dos acontecimentos ao meu redor, mas acho que o fato de eu estar buscando uma compreensão maior do outro, de mim e do universo já é um bom começo. Entender que o controle já é um sofrimento em si mesmo e tentar se afastar desse lugar no primeiro sinal de aparição já é um avanço.

E assim a gente segue, dia a dia, tentando liberar os outros e a nós mesmos dessa prisão falaciosa que se chama controle, aquele que sempre aparece travestido da singela vontade de ter certeza.

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