Posso me ver


Algumas vezes eu não gosto de você. Não gosto como você me tratou, de como você me despetalou assim que me conquistou. "Quem ama não despetala" - uma sábia me disse.

A percepção de que o seu amor e suas atitudes para comigo não foram legais pra mim me dá força para seguir em frente. Saber que eu fiz de tudo para mudar nossa dinâmica, para fazer dar certo, me dá tristeza. É uma tristeza resignada, por vezes intensa, mas na maioria das vezes, magoada, que me dá paz.

Aprendemos muito nesse relacionamento. Foram três anos de erros e muito aprendizado, principalmente, do que não fazer. Curso intensivo.

Acabou e meu chão foi junto. Como? Esse amor que eu tinha certeza de estar comigo, de caminhar junto. De não ser perfeito, mas não querer se desapegar. Pertencimento era o que eu sentia. Você meu e eu sua, na minha cabeça.

Pra você não sei até que ponto foi assim. Não sei de fato o que fez você decidir acabar com a nossa relação. Vou às lágrimas ao tentar imaginar o momento.. será alguma coisa que eu fiz, que eu não fiz? Que não fizemos?

Nunca vou saber. Você me deu uma desculpa estapafúrdia e saiu pela porta da frente me agradecendo por ter te transformado em um homem. Assim, ipsis litteris. Doeu.

Meu coração não acreditava, meus olhos não enxergavam, mas eu sentia que o certo era não argumentar. Uma voz me dizia que era o melhor.

Passei as duas primeiras semanas sem comer. Emagreci. Não via nada na minha frente.

Eu poderia desfiar o rosário de como eu cheguei até aqui, quase dois meses depois, inteira. Aliás, inteira não, me refazendo, me sustentando, me restabelecendo.

Hoje, tão pouco depois, eu vejo o mundo de forma completamente diferente. Não posso dizer que um pedaço meu ficou com você, porque me sinto inteira, mesmo que ainda despedaçada. Mas está tudo aqui, ao alcance da minha mão, pra eu pegar de volta e reconstruir melhor.

Acho que o que mais fez eu demorar (a dor transforma segundos em meses) a me recompor foi o susto. Pra mim, até agora, o que aconteceu foi completamente do nada. Um belo dia, no final de um domingo que anunciava uma nova semana, quase como outra qualquer, você me disse que acabou.

Quando eu paro pra pensar, me assusto ainda. Me senti e me sinto traída quando penso que você veio até a minha casa, passou sábado e domingo inteiros comigo, tudo super bem e, antes de ir embora, terminou, colocou ponto final.

Eu demorei a levantar. Estou engatinhando e ensaiando os primeiros passos. Às vezes me dá uma vergonha interna de demorar tanto, ao meu ver, já que você não foi legal comigo. Mas hoje sou uma pessoa mais forte, mais consciente, mais lúcida dos outros e, principalmente, de mim.

Foi e ainda é um grande baque; foi e ainda é uma saudade; foi e ainda é um amor. Mas está passando, assim como os dias. Não sei o que vai ficar, mas você tem razão em uma coisa: eu sou forte. Então, demore o tempo que for, eu vou conseguir caminhar e correr livre, tenho certeza. Está logo ali, posso ver, posso me ver.

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