Pra mim, é muito difícil parar. Eu me sinto bem executando e entregando coisas. Eu me sinto bem pensando e materializando o que eu penso. É assim que, há 31 anos, eu me sinto bem.
Aí vem a COVID-19 e a imposição de estar em casa o tempo todo. De início, eu achei que fosse tirar de letra. Achei que ia focar nos meus trabalhos, nas minhas leituras, projetos etc e que ia usar essa parada obrigatória como algo... adivinha!? Extremamente produtivo. E até um pouco assim durante as duas primeiras semanas. Claro que não na mesma intensidade de sempre, mas com algum bom jogo de cintura.
Agora, na terceira semana, entretanto, a quarentena pesou. Pesou por causa da minha vida pessoal, que obviamente é atravessada por boletos, mas também pela minha preocupação social. Estar em casa assistindo às notícias e a todos os movimentos dos nossos agentes políticos (sim, nas duas primeiras semanas o meu big brother era a globo news), começou a me deixar muito angustiada.
Mais do que ficar com raiva das estratégias genocidas do Presidente, da arrogância do Ministro da Economia e da dissimulação do Ministro da Saúde, observar na lupa os movimentos de terceirização da culpa pelos ocupantes de importantes cargos públicos, coloca-me em choque com a minha já cética crença no ser humano branco macho elitizado.
De fato estamos vivendo algo sem precedentes entre as pessoas hoje vivas. Ninguém tem a resposta exata nem para a cura da COVID-19 nem para essa teia social (que também é econômica, médica, sanitária etc), que está tensionada e que nos envolve a todos.
Não há respostas e o simples fica muito grande. Todo mundo está tendo que se haver com a própria existência e o sentido da vida. Todo mundo está sendo obrigado a entender a seriedade do voto. Todo mundo está tendo que enxergar que tem a ver com todo mundo - literalmente.
Eu não faço a menor ideia de onde estaremos ao fim disso tudo. No momento, eu só tenho uma TV desligada, um celular no silencioso e uns dedos teclando palavras, porque entendi que eu não vou conseguir ser produtiva se continuar ignorando o que está acontecendo dentro de mim.
Pra mim, ainda é novidade silenciar o mundo. Acho que vou sair do computador, passar uma roupa e fazer um yoga. Não, nunca fiz yoga, mas vai que ajuda mesmo, como dizem...
Esse não é um texto que vai trazer uma grande moral pra isso tudo, porque, afinal, estamos, individual e coletivamente, construindo ainda; mas, projetando o futuro, eu só imagino que, se tivermos aprendido algo substancial com essa pandemia, pouco será como antes.